Como e quando surgiu este projeto
(Roconorte)?
"O Grupo
Roconorte formou-se em 1981 depois de dois grupos musicais da região terem
acabado. Foram eles, o "Grupo Thema Solus" do qual fiz parte eu, o
Gil, o Evaristo e a Dores e o "Grupo Contacto" de onde vieram o Manuel João
e o Carlos Pereira.
Assim os
elementos que iniciaram este projeto musical foram: Jorge Nande (teclados e
voz), Evaristo (bateria), Gil (baixo e voz), Manuel João (guitarra e voz),
Carlos Pereira (saxofone) e a Dores (voz)."
Quais as principais dificuldades que
surgiram? Como as ultrapassaram?
"Iniciar um
projeto com 6 jovens sem dinheiro, juros no banco a 30% e o mercado musical
nacional quase inexistente, para um grupo do nosso género, foi um desafio enorme
mas quando se acredita que se pode vencer e ultrapassar dificuldades porque o
sonho é grande, tudo o resto deixa de ser barreira e passa a ser encarado como
algo que faz parte da própria construção. Não havendo mercado em Portugal fomos
para Espanha, procuramos as salas de festas do país vizinho e posso dizer, sem
vaidade mas com muito orgulho, que o Grupo Roconorte foi o único grupo português
que conseguiu estar presente nas salas de festas de toda a Galiza, desde
Ribadeo, Sada, Muros, Cee, Puente Puerto, Finisterra, Carvalho, Pontevedra,
Baiona, Ramalhosa, Vigo, Ordenes, Lugo, Santiago de Compostela, Santa Comba,
Malpica, etc., durante mais de oito anos sem parar. Estivemos quase 20 anos
presentes na Associação Casino de Pontevedra onde iam tocar orquestras da RTE e
nós, o grupo português... Depois, chegou a crise às salas de festas da Galiza e
enquanto tínhamos um mercado de inverno enorme em Espanha e no verão em
Portugal, passamos a ter menos espetáculos no inverno melhorando os espetáculos
em Portugal, no verão."
Quais as principais diferenças/mudanças que
observa, comparando como era no inicio e como é hoje?
"No inicio as
coisas não eram encaradas com o profissionalismo que acontece hoje no Grupo
Roconorte. Atualmente, para além de ser um grupo de bons amigos, é gerido como
empresa onde trabalham 11 pessoas. Quando se iniciou este projeto, há 31 anos, éramos bons amigos mas não trabalhávamos assim a nível de ensaios nem os
investimentos na produção do espetáculo eram tão avultados. Antigamente bastava
uma carrinha e alguma aparelhagem, agora já é necessário palco próprio, gerador
e muitas outras coisas que aumenta a logística consideravelmente."
Que características considera relevantes num
"líder" para que tudo corra bem?
"A isso não
poderei responder com exatidão, poderei dizer que, quando todos conseguem
exercer o seu papel, o líder quase que será um gestor de recursos e não aquele
que impõe. As diretrizes neste grupo são comunicadas quando alguém entra e
depois cada um só as deverá aplicar como profissional."
Que dificuldades, que preparação e o que há
a fazer para cada espetáculo?
"Não
considero que haja verdadeiramente dificuldades, penso que em qualquer local de
trabalho deve-se trabalhar. Com certeza que por vezes as viagens cansam mas se
as fizermos para passar férias também são cansativas. Este é o nosso trabalho.
Temos ensaios musicais 3 vezes por semana durante quase 5 h ou mais e quem não
é músico prepara o material dando manutenção ao mesmo."
No final de cada espetáculo tentam fazer
uma avaliação?
"Sim, é
normal analisarmos quase todos os espetáculos. Eles costumam ser gravados e, no
local do ensaio, verificámos e retificámos alguma coisa que possa ser melhorada."
Quando algo corre menos bem em quem e no
que se apoiam?
"Quando o
assunto é do foro da empresa o líder deve mostrar vontade e perspicácia para
resolver algo que não esperava que acontecesse, se for do âmbito musical todos
nós sabemos que ninguém nasce ensinado e se alguém erra não o faz porque quer
mas porque é humano. Sendo assim o líder está lá e resolve. Em tudo o resto
apoiamo-nos todos uns nos outros porque somos um grupo."
Quais as vossas influências?
"Penso que
todos nós temos influências de tudo um pouco. Desde o jazz até à musica popular
aprendemos sempre qualquer coisa. Devo também dizer que temos gostos musicais
bastante refinados, seja lá qual for o género."
Em termos de popularidade, como é o
Roconorte em Portugal? O público tem-vos apoiado?
"Um grupo
musical que vai fazer 31 anos, que tem tido um percurso qualitativo acima da
média, só deve estar contente por ter um público que o prefere de norte a sul do
país e também no estrangeiro. Com certeza que as nossas plateias, na maior
parte dos casos, nunca ficaram
defraudadas pois tudo o que fazemos é com alma e coração, é o amor a um
ideal, possivelmente a uma causa e, quando algo corre menos bem, o público
desculpa-nos porque sabe que a nossa vontade é futuramente fazer melhor."
Sendo um grupo de covers alguma vez
pensaram lançar originais?
"Sim pensamos
mas iríamos desvirtuar todo o conceito para o qual o Grupo Roconorte está
formado. Somos um grupo de baile, de covers, de muita música boa e esse desafio
obrigar-nos-ia a parar o nosso trabalho diário para além de nos dar uma imagem
completamente diferente daquela que as pessoas tem de nós enquanto Roconorte
pelo facto de que a música que pudéssemos compor seria, certamente, bem diferente
daquela que o grupo executa nos seus espetáculos."
Sabemos que os constituintes da banda foram
mudando até ao tempo de hoje. O que procuram num membro para que possa fazer
parte do Roconorte?
"Algum
conhecimento do instrumento (a voz também é um instrumento), do que vai fazer,
muita vontade de se aperfeiçoar, interação e, ao mesmo tempo, integração com os
outros colegas de trabalho."
Todos os elementos são importantes para a
banda, calculamos. Mas há algum que se destaque?
"Nesta banda
todos são importantes. Não há ninguém a mais nem a menos, todas as peças
encaixam e todas fazem falta. Com certeza que o público terá as suas
preferências mas eu não saberei responder por eles, como compreendem."
Acha que o grupo está mais maduro? Em quê?
"Se
considerarmos que tentar melhorar poderá ser evolução então será ,no entanto
também pode acontecer o contrário e aí será o retrocesso. O Grupo Roconorte, felizmente, tem tido sempre trabalho e, neste momento, mesmo com as dificuldades
que aparecem para alguns grupos musicais, continuamos com a nossa programação
para o ano projetada no mesmo sentido dos anos anteriores. É evidente que, como
já afirmei, trabalhámos muito todos os dias para melhorar e, quando assim
acontece, a opção pela qualidade terá sempre primazia."
Entrevista e edição por João Soares e Ivo Ferreira